quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Crônica do Pai Presente

Hoje, com meus vinte e poucos anos entendo o que antes, tão pequenina não conseguia compreender; mas conseguia sentir. Era um herói. Aquele que sabia ler, escrever, desenhar, inventar riscos e criar rabiscos. E me ensinava o mesmo. O mesmo, que tornava cada passo e cada tombo a delícia de todos os dias. Lembro-me como se hoje fosse. E, tão pequena e com a inocência de meus seis anos, tão entusiasmada que estava, já conhecia as letras, os números, os símbolos. Mas naquela tarde, parecia que um novo mundo se abria diante de meus olhos. Livros coloridos, cartilhas, lápis de cor, canetinhas, giz de cera e muito papel colorido se transformavam no mais belo arsenal. Aquele que eu queria que durasse a vida toda. Chegou ele me mostrando tudo, ajudando a encapar os cadernos, contando e nomeando lápis, etiquetando caixas de giz de cera. Mas tinha algo que me despertava ainda mais a curiosidade. Era uma cartilha colorida, cheia de desenhos e letras, bichinhos coloridos que faziam meus olhos brilharem me despertava um desejo de conhecer aquele "livro"tão diferente. Nunca precisei dizer muito, pois ele sabia o que meus olhos diziam, o que minhas mãozinhas queriam e principalmente: o que permeava meus sonhos de menina. Um simples gesto me conduziu ao desconhecido. Sentada em seu colo, ele abriu as primeiras páginas. Me mostrou um índice. Lindo, colorido, onde tudo tinha. Me mostrou as páginas, os desenhos, os bichinhos que eu achava meio exagerados, porque tinham cabeças grandes e corpos pequenos. Mas eram simplesmente os animais mais lindos que eu já tinha visto! Por um momento, pensei em me chamar Camila. Camila. Era um nome lindo. Era uma menina de cabelos amarelados, vestido vermelho e sapatos amarelos. Foi a primeira palavra que aprendi a ler. Foi a primeira palavra que Ele me ensinou. Em uma letra, encontrei outra. Formaram uma sílaba. Em uma sílaba mais uma. E outra. E enfim uma palavra. De uma palavra, uma frase. De várias frases, um texto. O mais lindo que eu já tinha visto. Queria mais. Queria ser grande. Queria ler, escrever. O tempo passou. e lá estava ele, em todos os meus momentos. No primeiro dia de aula, no tombo de bicicleta, no corte do braço, no joelho esfolado, na festa do dia dos pais, nos aniversários, no não bem dito, no sim conformado, no talvez renunciado. Momentos que nunca saem da memória. Uma memória nada esquecida ou apagada. Tempos que não voltam mais. Das teimosias mal sucedidas e no arrependimento por cada gesto mal pensado aprendi com o tempo que cada sim e cada não são necessários. Que a cada lágima derramada, estaria Telmah, sozinha  no jardim do velho casarão, com a cadela filhinha lambendo o chantili de seu bolo de aniversário. Ou quem sabe, estaria na prateleira da locadora um filme da década de 70 que criaria uma Love Story? Ou talvez  no "você não precisa passar por isso" dito num galpão na solidão do arrependimento. Quem sabe na ilusão transcrita pelos sonhos Disney de fantasia. Sonhar em escrever um best-seller num Castelo de vidro se tornaria um desejo de criação. Mas ele estava lá. em todos os momentos. Rindo, vendo sempre um ponto necessário e positivo em uma realidade que nem sempre é doce e suave. Mas o que torna  mais incrível essa realidade é que a cada dia a vida se transforma e ensina que o tempo passa, a gente cresce e aprende que a palavrinha que esse Ele simboliza traduz com três simples letras o que de mais forte e intenso pode ser oferecido pela vida que é presença figurada de um ser que cria, recria e transforma a existência em essência vivida e sentida. E que nunca será esquecida ou perdida.

Alessandra Beatriz.

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